EDUCAÇÃO INDÍGENA

Estudantes Yanomami concluem mestrado na Ufam com defesas emocionantes e presença de Davi Kopenawa

Líder xamânico celebrou conquista dos três estudantes como passo na luta pela preservação da Terra Yanomami, da cultura e língua do povo

Lucas dos Santos
online@acritica.com
23/04/2025 às 12:08.
Atualizado em 23/04/2025 às 15:32

Odorico, Modesto e Edinho Yanomami ao lado da professora Iraildes Caldas. (Foto: Junio Matos/ A Crítica)

Iniciando sua fala na língua original de seu povo, os Yanomami, o xamã e líder indígena Davi Kopenawa comemorou a formação de três estudantes da etnia no de mestrado Sociedade e Cultura na Amazônia, mantido pelo curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Os alunos Odorico Xamatari Hayata Yanomami, Edinho Yanomami Yarimina Xamatari e Modesto Yanomami Xamatari Amaroko defendem suas dissertações nesta quarta-feira (23), contando com Kopenawa na banca como arguidor.

“Eu estou muito contente. Eles sonharam com a grande alma da floresta, da nossa terra Yanomami. Para eles seguirem, abriram espaço para os outros da terra Yanomami também entrarem. E já esperamos muitos para essa escola. Só que as autoridades ficam falando da educação e da saúde. Eu não quero mais ficar escutando promessas”, disse.

O líder indígena afirmou que os Yanomami se preocuparam com o futuro, que se mostrou ruim, o que levou às formações das associações nas terras indígenas. Atualmente são dez no Amazonas e em Roraima. 

“Eu estou falando para os três enxergarem o caminho da realidade. Seguir e atravessar para o lado que nós estamos querendo chegar. Esse é o nosso sonho, essa é a nossa luta: a defesa da nossa Terra Yanomami, a defesa da nossa língua própria, para não perder. Porque a língua portuguesa não é minha, é de vocês”, disse.

(Foto: Junio Matos/ A Crítica)

A manutenção da língua Yanomami, inclusive, é o tema de dissertação de Edinho Xamatari. Segundo ele, a escolha se deu pela preocupação com a perda da língua materna, que já foi, em partes, perdida.

“É sobre a língua Yanomami de Pohoroá. Se eu posso falar, eu posso defender a minha língua. Eu posso mostrar para a banca como foi realizado esse trabalho, porque eu fiz, porque escolhi esse tema. Eu fiz isso porque me preocupei com esse tema. Eu queria trazer o que já foi parte da língua. Não tem como buscar só para registrar”, destacou.

O professor Caio Souto, coordenador do Programa de Pós-Graduação de Sociedade e Cultura na Amazônia (PPGSCA), destacou que, apesar de não haver um dado exato de quantos estudantes Yanomami foram formados pela Ufam, esta é a primeira vez que o programa de mestrado forma três estudantes da etnia.

“Eles são de uma turma que tem mais indígenas, são 30 alunos de São Gabriel da Cachoeira, de dez etnias diferentes. Tem tronco Tucano, Aruak e também esses três Yanomami. Esses três, especificamente, a gente preparou uma defesa pensando na questão Yanomami. Então, convidamos o Davi Kopenawa, por ser uma liderança indígena, mas não só por isso. Também porque ele tem um reconhecimento acadêmico, é doutor honoris causa por duas instituições brasileiras, é membro da Academia Brasileira de Ciências, tem obras publicadas que são usadas no currículo de vários cursos do Brasil”, disse.

O reitor da Ufam, Sylvio Puga, destacou ainda que a licitação para a construção do campus de São Gabriel da Cachoeira, “uma obra do governo Lula”, e além disso apontou o avanço na criação de uma universidade indígena com apoio da Ufam. “Vocês que são os verdadeiros protagonistas desse processo”, frisou ele.

Investimento

Durante o evento, o coordenador-geral de políticas para a Juventude do Ministério da Educação (MEC), Yann Evanovick, relembrou que Davi Kopenawa esteve no ministério para cobrar investimentos para a educação das populações indígenas.

“Nessa luta ele conquistou, e eu aproveito também, para anunciar a liberação de R$ 32 milhões para os territórios étnicos e educacionais Yanomami. Serão investidos no território do Amazonas e do estado de Roraima”, revelou.

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