SONHO REALIZADO

De Manaus para São Paulo: história de superação na maior corrida de rua do Brasil

Conheça a história de Eduardo Martins, amante de corridas de rua e que disputou, pela primeira vez, a Corrida de São Silvestre na última semana

Camila Leonel
04/01/2025 às 09:39.
Atualizado em 04/01/2025 às 09:39

Eduardo Martins comemorou e se emocionou muito com o feito de correr a sua primeira corrida São Silvestre (Foto: Arquivo Pessoal)

A tradicional Corrida de São Silvestre é uma das mais almejadas pelos corredores de rua pela visibilidade que traz e, com isso, se torna um sonho para gente que sai de várias partes do país para disputá-la no último dia do ano. Dentre os vários sonhos que se realizaram no dia 31 de dezembro, um deles foi o do manauara Eduardo Martins,20, juntamente com a mãe dele, Auxiliadora Ferreira. O jovem tem síndrome de Down e disputou a prova pela primeira vez, um objetivo que começou ainda em 2023.

“Foi uma grande honra correr a São Silvestre. Eu quero ir de novo”, disse Eduardo.

De acordo com Auxiliadora, Eduardo sempre gostou de praticar esportes e uma das atividades favoritas era correr na Avenida das Torres, que é próximo ao local onde mora, na zona Norte de Manaus. A partir daí, mãe e filho começaram a fazer parte de uma associação, o Jungle Runners (corredores da floresta, em tradução livre do inglês). A equipe decidiu montar um projeto para levar um grupo para disputar a São Silvestre. A partir daí, foram várias ações que incluíram feijoadas, arraial e brechós. Tudo, para arrecadar fundos e levar o grupo composto por 31 pessoas para São Paulo com as despesas pagas.

“Como um grupo eram com pessoas com deficiência e cadeirantes também, a gente sabe que o custo não seria muito pequeno e que a gente precisava de dinheiro pra fazer tudo isso e assim a gente fez e chegamos no nosso objetivo, que era o de levar a delegação para a corrida de São Silvestre”, explicou Lucélia Gomes, presidente do Jungle Runners.

A equipe do Jungle Runners que participou da Corrida de São Silvestre era composta por 11 TPCD'S e o restante eram acompanhantes e apoiadores

Preparação

Além da arrecadação de recursos, Eduardo também começou a preparação para encarar os 15 quilômetros da prova. 

“Os treinos foram ocorrendo na Avenida das Torres mesmo, pois ele estuda na Cidade Nova e, depois das aulas, íamos correr três dias na semana”, contou Auxiliadora, que corre junto com o filho e fazia os treinos juntamente com ele.

De acordo com Lucélia, Eduardo sempre correu provas de 5 quilômetros, mas o planejamento era para que ele conseguisse completar a prova alternando corrida com caminhada.

“Como a São Silvestre tem 15 quilômetros, a intenção era continuar a prova. O Eduardo faz 5 km e, com isso, o corpo já fica mais, digamos, acostumado para aumentar, mas não exatamente correr os 15, que não foi o que aconteceu com o grupo. A intenção não era correr, era caminhar e correr um pouquinho.  Aí todo mundo fez um intensivão, principalmente nos últimos meses que antecederam a prova para estar apto e cada qual foi fazendo durante a semana e nos encontrávamos no domingo.  Como não foi só corrida, corrida deu de boas pra conseguir (completar a prova). O Eduardo chega no fim muito de boa. Tem gente que chega acabada, mas o Dudu ficou de boa na chegada”, explicou.

Além de chegar inteiro no fim da prova, Eduardo também chegou muito emocionado por completar os 15 quilômetros e já planeja repetir a dose no ano que vem. “Ele amou, ficou muito emocionado e até chorou. Eu fiquei muito emocionada em ver a felicidade dele. Ele ama correr, a maior felicidade dele é quando tem corrida. Ele já quer até ir no ano que vem (risos)”.

Inclusão

Além de Eduardo, outros corredores com deficiência também participaram e completaram a prova, o que representa um gesto de inclusão através do esporte, o que também significa melhora na qualidade de vida não apenas dos atletas como também das famílias que, ao começar a acompanhar os filhos, também passam a praticar esportes também. E juntando tudo isso, derrubar barreiras e preconceitos.

“Acreditamos na inclusão social através da corrida. Isso é super importante e fundamental porque também traz as famílias para praticar uma atividade física e, na corrida, a gente consegue ver a igualdade trazendo nossos PCDs e ver a convivência como um todo, de maneira que eles interagem com outros corredores, principalmente quem usa cadeira de rodas e isso traz acessibilidade para todo mundo”, disse antes de prosseguir.

“Muitas das famílias saíram do sedentarismo através do filho, que veio praticar, gostaram e os pais treinam pra empurrar seus filhos, derrubando algumas barreiras como a conscientização para as outras pessoas e trazendo inclusão. E é muito importante essa inclusão junto com o esporte e a corrida de rua é uma ferramenta para construir uma sociedade mais justa e acolhedora e sem preconceitos com PCDs e quebrando uma barreira bem grande”, declarou Lucélia.

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