Cobertura vacinal insuficiente, falhas no rastreio e dificuldades de acesso a exames agravam cenário no estado, que sedia neste sábado (26) evento nacional sobre tumores ginecológicos
(Foto: Agência Brasil)
Apesar de ter sido o primeiro estado do Brasil a implementar a vacinação contra o HPV, o Amazonas chama atenção pela alta incidência de câncer de colo de útero. A baixa cobertura vacinal e falhas no rastreamento são alguns dos fatores que contribuem para o cenário preocupante, segundo a oncologista Gilmara Resende, membra da comissão organizadora do “Board Review EVA 2025”, que este ano será realizado em Manaus.
O evento presencial e gratuito ocorre neste sábado (26), no Quality Manaus Hotel, localizado no bairro Adrianópolis, Zona Centro-Sul da capital. O encontro irá reunir especialistas renomados para debater os principais avanços no diagnóstico e tratamento dos tumores ginecológicos, e é voltado para oncologistas clínicos, radioterapeutas, cirurgiões oncológicos, ginecologistas e residentes em oncologia.
Responsáveis por mais de 13% dos casos de câncer em mulheres no Brasil, os tumores ginecológicos são uma das principais ameaças à saúde feminina. No Amazonas, a situação é ainda mais desafiadora, tendo em vista as dificuldades de acesso a exames e tratamentos especializados, principalmente para a população do interior do estado.
“A gente tem bastante tumor ginecológico aqui (Amazonas), principalmente câncer de colo de útero. E a gente não vê subnotificação nem subdiagnóstico, o que a gente consegue enxergar é um diagnóstico retardado, um diagnóstico tardio. A gente não consegue ainda pegar pacientes e tumores iniciais. A maioria das pacientes vai ser tratada com rádio, quimioterapia, porque os tumores são localmente avançados”, relatou a médica.
Desafios: vacinação e rastreio
Segundo Gilmara, embora o câncer de colo de útero seja totalmente rastreável e evitável, ainda há falhas estruturais e até mesmo culturais na prevenção. A médica também alertou para erros na coleta ou leitura dos exames, que comprometem o diagnóstico precoce.
“A porta de entrada da prevenção é a vacinação contra o HPV. Depois, o Papanicolau. Recentemente, o Ministério da Saúde incorporou a pesquisa do DNA do HPV no exame citopatológico, o que é um avanço. Mas a cobertura vacinal ainda é insuficiente”, afirma.
A oncologista também destaca que, no Amazonas, o acesso é um grande obstáculo. Pacientes do interior, por exemplo, precisam se deslocar para a capital para fazer exames, o que nem sempre é viável. Além das barreiras estruturais e logísticas, fatores emocionais e sociais também atrasam o diagnóstico, segundo a médica.
“Muitas mulheres sentem vergonha de falar sobre a saúde ginecológica. Outras não querem deixar a casa, os filhos, o trabalho para se cuidar. Às vezes, sentem sintomas como cólicas ou sangramentos, mas acham que é normal. Tudo isso contribui para que o tumor só seja detectado em estágios mais avançados”, lamenta Gilmara.
Tumores e fatores de risco
Somente os três principais cânceres já somam mais de 31 mil novos casos, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca). O mais incidente é o câncer de colo de útero, com pelo menos 17 mil novos casos e 6,6 mil mortes por ano. Em seguida, aparecem o câncer de endométrio e tumor de ovário, que juntos ultrapassam 15 mil casos e se aproximam de seis mil mortes por ano.
O envelhecimento da população e o aumento da obesidade são dois dos principais fatores de risco para tumores ginecológicos. Segundo Gilmara, quanto maior o envelhecimento, maior a chance de aparecerem tumores.
“A gente tem uma inversão em relação à América do Norte, porque lá o tumor ginecológico mais comum é endométrio e ovário, e o tumor de endométrio está relacionado diretamente à obesidade, né. O ser obeso a longo prazo — não estar acima do peso, mas aquela paciente que sempre foi obesa — e aquela paciente que tem outros fatores de risco, como diabetes, hipertensão e colesterol alto, dislipidemia. E na nossa região o mais comum é tumor de colo de útero, relacionado a mais de 90% dos casos à infecção pelo papilomavírus humano, o HPV”, explicou.
Apesar dos obstáculos, a médica também destacou os avanços no campo da oncologia e ginecologia que, inclusive, serão debatidos durante o evento deste sábado. Para ela, ainda é necessário quebrar alguns paradigmas e barreiras, mas com acesso à informação e com conhecimento sobre o próprio corpo é possível melhorar esse cenário.
O “Board Review EVA 2025” é promovido pelo Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA), com o apoio da Adium. O grupo reúne profissionais de diferentes especialidades, como ginecologistas, cirurgiões oncológicos, patologistas, radioterapeutas e enfermeiros. Veja a programação completa do evento na página do EVA: https://eva.org.br/evento/board-review-eva-manaus