OPINIÃO

Depois do 8 de março, a violência segue em larga escala

Mulheres celebram memória da data ao demarcarem as lutas atuais de ordem política, econômica, religiosa, patriarcal e do tecno machismo

Por Ivânia Vieira
12/03/2025 às 08:35.
Atualizado em 12/03/2025 às 08:35

(Jeiza Russo)

Sábado, 8 de março de 2025. Mulheres em Manaus, reunidas no Largo São Sebastião, Centro, denunciam as violências de gênero, a violência obstétrica, o feminicídio. São elas as vozes ecoadas de outras mulheres do Amazonas profundo, cuja marca da dor é invisível. No mundo, mulheres celebram a memória desta data ao demarcarem as lutas atuais de ordem política, econômica, religiosa, patriarcal e do tecno machismo. 

Noite de sábado, 8 de março de 2025. Um rapaz e uma moça casam na igreja Católica. Na cerimônia, o padre fala ao jovem casal: “{...} porque vocês sabem que em briga de marido e mulher...”, o casal recém-casado e a plateia de convidados  completam a frase “ninguém mete a colher”.

É inaceitável que no Século 21, no Dia Internacional da Mulher, e no Brasil, um dos países que mais se mata, se estupra e se espanca mulher, um sacerdote anime casados e plateia a repetir o inadequado dito popular. Infelizmente, alguns padres, freiras e pastores seguem essa prática e ignoram os dados de estudos sobre violência contra a mulher.  Aplaudem os violadores dos direitos humanos das mulheres.  

Nas redes sociais, Janja, a primeira-dama do Brasil, é a vítima da vez em campanha de difamação que inunda espaços de aplicativos como WhatsApp e circula feito rastilho de pólvora. Parcela expressiva das frases misóginas é escrita por machos violentos a serviço de interesses de grupos políticos. Na voracidade da agressão ferem as outras mulheres, aquelas que estão junto deles, mães, filhas, tias, avós. Culpam Vitória por ter sido assassinada, assim como fizeram com outras mulheres assassinadas.

O relatório da quinta pesquisa “Visível e Invisível: Vitimização de Meninas e Mulheres”, realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), mostra que a violência contra a mulher nos últimos 12 meses atingiu o maior índice desde o início da série histórica. “Em média, as mulheres relataram mais de três tipos diferentes de violência no último ano (2024), sendo que 16,9% sofreram agressão física, ou seja, quase 9 milhões de brasileiras sofreram esse tipo de violência no último ano. São números que assustam, e, infelizmente, mostram a dura realidade vivida por mulheres no dia-a-dia”. 

O documento aponta que 37,5% das entrevistadas relataram ter vivenciado ao menos uma situação de violência no último ano, corresponde a 21,4 milhões de mulheres com 16 anos ou mais. É a maior prevalência de violência entre mulheres verificada ao longo dos oito anos da pesquisa realizada pelo FBSP. A esmagadora maioria das mulheres afirma que sofreu agressões diante de testemunhas e ¼ delas disse ter sofrido agressão diante dos filhos. “Estamos diante de um quadro crítico”, assina o relatório.

Quanto ao marcador social de raça/cor, mulheres negras (41,9%) – somatória de pretas e pardas – registraram prevalência superior de vitimização do que as mulheres brancas (37,8%). Ao desagregar a categoria negra, é possível observar que as mulheres pretas (44,3%) apresentaram maior exposição à violência do que as pardas (40,8%).

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