O Jornalismo me fisgou desde a primeira juventude. Não sabia sobre Jornalismo e as controvérsias dessa profissão. Nas brechas das experiências vividas como estudante do segundo grau (ensino médio, hoje) gostava de escrever, de construir histórias a partir da realidade do bairro onde morava e da leitura de exemplares aleatórios da revista Seleção do Reader’s Digest, deixados em casa pelo irmão mais velho.
Costumava, nas horas de folga, reunir o material recriado e ler para outras crianças, por vezes, na rede esticada na sala da casa de madeira sempre muito movimentada. Um dia, o jornalista e escritor Oswaldo Lucas, 92, perguntou a minha mãe se ela permitia que ele me levasse para fazer um teste como repórter. Ela permitiu e, juntos, os três, fomos à redação do jornal A NOTÍCIA. Ali, ela ficou sentadinha aguardando enquanto eu fiz o teste: escrever uma matéria sobre transporte coletivo. Eu sabia o que era "andar de ônibus", da empresa Ana Cássia, na rua principal da Colônia Oliveira Machado, não asfaltada, com muita poeira nos dias de verão, e muita lama nos dias de chuva.
Éramos três candidatos à vaga de repórter. Dois rapazes e eu. O primeiro texto (hoje perdido) foi manuscrito, depois “passei a limpo” na máquina de datilografia, uma das modernidades da época. Aprovada, comecei a trabalhar. Bianor Garcia, falecido em 1990, era o editor-chefe, conhecido pelas manchetes extravagantes; Monteiro, Gabriel Andrade e Isaías Oliveira os copidesques entre outras funções na movimentada redação de A NOTÍCIA.
Os riscados vermelhos sobre meus textos, após a leitura de um deles, me deixavam agoniada. Eu perguntava: por que riscou? Como deve ser feito? O que tem de errado? Reescrevia a matéria, entregava e aguardava a reação do copidesque. Minha meta era reduzir os riscos vermelhos até não ter mais nenhum deles nos textos por mim escritos. Os riscados foram diminuindo. Nunca acabaram. Descobri que entre erros feios e danosos vive a subjetividade da escrita onde as visões de mundo desfilam. Sou grata pelos ensinamentos “na lida” que esses e outros jornalistas, como Raimundo Holanda, João Batista e Ernesto Coelho, todos colegas de A NOTÍCIA, me proporcionam nessa estrada de aprendizado contínuo.
Há mais de 20 anos estou dentro de uma universidade, a UFAM, na delicada tarefa de ser professora no curso de Jornalismo. O perfil dos jovens estudantes dessa área se altera a cada entrada nas suas especificidades, a imprensa passou por mudanças radicais e as novas plataformas impõem novos formatos, outras mediações sobre a informação e a construção de notícia para além dos jornalistas. É uma confusão com interesses mercadológicos e políticos estratégicos e bem organizados em escala global. Estão postas, nesse cenário, as possibilidades, as imposições e as ameaças. A batalha se apresenta todos os dias e pede atenção do jornalismo no desvendamento dos interesses manejados.
Como jornalista reafirmo: faria tudo de novo em meio a paixão e a razão. O Jornalismo pode agir, impactar, transformar nos pequenos atos revolucionários do cotidiano. Sim, faria tudo “{...} numa profissão tão incompreensível e voraz, cuja obra termina depois de cada notícia, como se fora para sempre, mas que não concede um instante de paz enquanto não torna a começar com mais ardor do que nunca no instante seguinte” – Gabriel García Marquez.
P.S.: Para as apaixonadas e os apaixonados que, sem perder a razão, fazem Jornalismo.