degradação e esperança no coração da cidade

Moradores do centro de Manaus cobram mais segurança e reocupação de prédios abandonados

Durante o seminário "Nosso Centro", população pediu mais habitação, ordenamento urbano e presença do poder público para revitalizar a região histórica da capital

Emile de Souza
politica@acritica.com
24/04/2025 às 16:07.
Atualizado em 24/04/2025 às 16:12

(Foto: Paulo Bindá/ A Crítica)

Moradores e lojistas pedem mais segurança e a ocupação de prédios históricos abandonados no Centro de Manaus. Essas reivindicações foram informadas por meio de um formulário online durante o 1º Seminário "Nosso Centro", realizado pela prefeitura para dialogar com esse público, além de apresentar propostas de melhoria.

A moradora do bairro, Acácia Ferreira, disse que sua principal queixa é quanto ao abandono do Centro Histórico e à falta de segurança.

“Minha casa já teve arrombamento 10 vezes. O centro de Manaus tem, nos últimos dez anos, um processo de abandono gradativo, que é incompatível com a cidade turística que somos. Outro ponto que nós temos aqui é a questão da falta de segurança, a ausência dos serviços públicos no Centro de Manaus. Temos uma cidade muito perigosa, com muito vandalismo, e quem reside, de fato, vive refém da criminalidade dentro de casa”, afirmou.

Ferreira também criticou a falta de acessibilidade, infraestrutura e serviços básicos no bairro. Segundo ela, por ser a concentração comercial e turística, deveria ser um modelo bem estruturado.

“Nós estamos sofrendo com um desordenamento urbano. As ruas do Centro estão invadidas por feiras irregulares, o que dificulta a movimentação dos moradores. Nós temos um processo de ausência de coletores de lixo. Nós temos uma ausência de instalações sanitárias eficientes e modernas, escoamento e até cuidado básico. Então, nós estamos realmente num estágio de profunda degradação”, ressaltou.

(Foto: Paulo Bindá/ A Crítica)

 A moradora criticou, ainda, que as medidas elaboradas são mais focadas em uma delimitação de áreas do Centro, mas que é preciso distribuir ações para a localidade toda, para que quem vive nessa região se sinta mais seguro para investir e movimentar.

“A proposta que a gente viu hoje é uma proposta que vem buscar o Centro e cria a apresentação da narrativa do espaço digital. Eu entendo que é interessante, até porque tem dois bilhões de incentivo para trabalhar, mas eu entendo que nós não precisamos ter somente essa narrativa. A gente não precisa criar tantos espaços culturais como o Lúcia Almeida, mas aproveitar os que já existem e, principalmente, preservar. Porque, para chegar lá, existem diversas áreas abandonadas, inclusive a Praça da Matriz", pontuou.

Entre as sugestões da moradora está a segurança na avenida Leonardo Malcher, onde existem pessoas residindo, além de ações com pessoas em situação de rua na Praça da Matriz, Praça dos Remédios e no Porto de Manaus.

“Se fala tanto de Parintins, de divulgar o festival, mas os turistas que vão para lá precisam do porto que fica localizado ali na região, que é insegura. O Porto de Manaus fica ali, mas não tem uma estrutura organizada e estruturada para o que Manaus tem se tornado.”

A arquiteta Maria Socorro Gouvêa participou do evento representando o Centro Comercial Complexo Boothline, localizado em frente à Praça da Matriz. Ela destacou que, diante do crescente interesse da população por cultura e tradição, o centro comercial está aproveitando a revitalização da área para implantar um novo espaço cultural voltado à comunidade.

“Hoje esse complexo se chama Mercado da Origem, que veio com essa nova pegada de nós fazermos voltado todo para a tradição da nossa região, agricultura familiar e artesanatos, principalmente os indígenas, e quanto mais ocupação ao redor, melhor e mais seguro.”

A arquiteta disse que o complexo tem 5 mil metros quadrados em seu pavimento térreo e uma demanda de 20 a 30 mil metros quadrados nos pavimentos superiores, que devem ser elaborados conforme o interesse de lojistas em se instalarem no local.

(Foto: Paulo Bindá/ A Crítica)

Gouvêa explicou que o mercado ficou abandonado por 15 anos e que, naquele local, ficavam pessoas ligadas ao crime e outras práticas, mas que agora recebe centenas de pessoas para prestigiar o trabalho. Ela disse que pode ser semelhante em outros espaços.

“Hoje começamos a habitar o espaço e melhorou muito, mas ainda é preciso que o Poder Público trabalhe mais essa questão da segurança, a estruturação do porto, o controle da marginalidade na Praça da Matriz. E é uma medida prática: percebemos que, quanto mais habitação, mais comércios abertos, menor é a criminalidade no local. Precisamos de mais Guarda Municipal e que mais prédios possam se tornar habitação para pessoas”, destacou.

O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Ralph Assayag, também defendeu que algumas mudanças precisam acontecer, desde que não prejudiquem a estrutura principal do comércio.

“Na parte comercial, é bom se nós pudermos fazer pequenas mudanças para que a gente possa evoluir para um melhor resultado, porque o comércio está há mais de 150 anos. Temos que fazer com que evolua, que melhore, mas que não mude de posicionamento, senão o comércio esvazia, e aí piora mais ainda”, explicou.

O presidente da CDL disse que tem diálogos com a prefeitura para que as moradias fiquem mais naquela região, pois isso possibilitaria maior movimentação.

“O outro pedido que nós temos é que a gente consiga voltar com a moradia no Centro. E, para voltar com a moradia no Centro, vamos precisar que diminuam os problemas de assalto, que diminuam os problemas dos moradores de rua, que têm que ser reestruturados e levados para lugares adequados.”

(Foto: Paulo Bindá/ A Crítica)

Além disso, Ralph Assayag disse que está tendo diálogos com a prefeitura para que se incentive a permanência dos bares noturnos no local, com adequação de som e estrutura, mas que outras áreas sejam recuperadas, como a rua Ferreira Pena.

“Nós acreditamos que teremos muito mais bares e restaurantes se tiverem mais pessoas morando ali. E, sobre os bares, só precisamos de ordenamento. A ordenação é horário de barulho, limpeza e espaço. Isso para que a gente recupere mais ruas, não só a Ferreira Pena”, ressaltou.

Prefeitura já realizou alguns projetos de recuperação

O secretário do Instituto Municipal de Planejamento Urbano de Manaus, Carlos Valente, destacou a criação do Porto Digital, projeto apresentado durante o seminário, como uma forma de unir diagnósticos e trazer de volta a recuperação do Centro.

“Mesmo com a pandemia (durante a gestão de David Almeida), começamos com o projeto Lúcia Almeida, o Píer 355. Já começamos desenvolvendo o projeto paralelamente ao programa ‘Nosso Centro’. Isso foi uma decisão acertada. O prefeito entendeu, apoiou e aportou recursos e, hoje, mais de 280 mil visitantes já foram lá no Mirante Lúcia Almeida. E agora vamos retomar esse programa, chamado ‘Nosso Centro’", afirmou.

O modelo de Porto Digital apresentado no seminário é inspirado em Recife, que conseguiu interligar o Centro Histórico aos ambientes de desenvolvimento tecnológico, de negócios, e muito frequentado por estudantes e membros de startups. Em Manaus, o ponto-chave da tecnologia seria o Casarão da Inovação Cassina, localizado na rua Bernardo Ramos, no Paço.

(Foto: Paulo Bindá/ A Crítica)

Valente explicou que a ideia é investir em mais espaços tecnológicos e recuperação interligada.

“Vamos mostrar como é o Porto Digital de Recife, que foi uma ideia também trazida para a Prefeitura de Manaus na gestão anterior, que deu o pontapé inicial. Esse Porto Digital de Recife é uma experiência interessante, porque mostra para a gente o que podemos atingir lá na frente. É importante lembrar que é um processo a longo prazo, e vamos precisar que as próximas gestões deem continuidade.”

Além disso, o secretário disse que as discussões sobre os investimentos e o recebimento de sugestões vão continuar no segundo dia de seminário e pretendem abordar 12 pontos cruciais de melhorias.

“Entre os temas que vamos abordar, estão segurança, turismo, lazer, mobilidade urbana, planejamento urbano e habitação. São 12 temas que serão discutidos hoje e amanhã para que a gente informe a sociedade, e a sociedade também participe da construção dessa nova matriz de ações que a gente vai desenvolver no segundo mandato do prefeito David Almeida”, destacou.

O secretário municipal de Finanças, Clécio Freire, também ressaltou a importância do seminário para reunir ideias e elaborar planejamento.

“Nós estamos oportunizando para que a sociedade, através de representantes da organização social civil, dos empresários, da iniciativa pública e da academia, possa efetivamente estar conosco aqui, trocando ideias, contribuindo, debatendo, colaborando para que, depois desse evento, nós possamos consolidar um documento, um plano de intenções voltado para o centro da cidade de Manaus”, disse.

(Foto: Reprodução)

Questionado sobre os investimentos que podem ser feitos, Clécio afirmou que seguirão modelos que já deram certo naquela região.

“A título de exemplo, nós podemos colocar aqui já a consolidação do Mirante Lúcio Almeida. Podemos colocar a construção do Boothline lá, que está em processo de restauração e, nos próximos meses, estará funcionando plenamente, apesar de já virem organizando eventos e tendo agenda lotada. Então, você já tem, por parte da Prefeitura e da iniciativa privada, vários investimentos em curso.”

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