Durante o seminário "Nosso Centro", população pediu mais habitação, ordenamento urbano e presença do poder público para revitalizar a região histórica da capital
(Foto: Paulo Bindá/ A Crítica)
Moradores e lojistas pedem mais segurança e a ocupação de prédios históricos abandonados no Centro de Manaus. Essas reivindicações foram informadas por meio de um formulário online durante o 1º Seminário "Nosso Centro", realizado pela prefeitura para dialogar com esse público, além de apresentar propostas de melhoria.
A moradora do bairro, Acácia Ferreira, disse que sua principal queixa é quanto ao abandono do Centro Histórico e à falta de segurança.
Ferreira também criticou a falta de acessibilidade, infraestrutura e serviços básicos no bairro. Segundo ela, por ser a concentração comercial e turística, deveria ser um modelo bem estruturado.
“Nós estamos sofrendo com um desordenamento urbano. As ruas do Centro estão invadidas por feiras irregulares, o que dificulta a movimentação dos moradores. Nós temos um processo de ausência de coletores de lixo. Nós temos uma ausência de instalações sanitárias eficientes e modernas, escoamento e até cuidado básico. Então, nós estamos realmente num estágio de profunda degradação”, ressaltou.
(Foto: Paulo Bindá/ A Crítica)
A moradora criticou, ainda, que as medidas elaboradas são mais focadas em uma delimitação de áreas do Centro, mas que é preciso distribuir ações para a localidade toda, para que quem vive nessa região se sinta mais seguro para investir e movimentar.
Entre as sugestões da moradora está a segurança na avenida Leonardo Malcher, onde existem pessoas residindo, além de ações com pessoas em situação de rua na Praça da Matriz, Praça dos Remédios e no Porto de Manaus.
“Se fala tanto de Parintins, de divulgar o festival, mas os turistas que vão para lá precisam do porto que fica localizado ali na região, que é insegura. O Porto de Manaus fica ali, mas não tem uma estrutura organizada e estruturada para o que Manaus tem se tornado.”
A arquiteta Maria Socorro Gouvêa participou do evento representando o Centro Comercial Complexo Boothline, localizado em frente à Praça da Matriz. Ela destacou que, diante do crescente interesse da população por cultura e tradição, o centro comercial está aproveitando a revitalização da área para implantar um novo espaço cultural voltado à comunidade.
“Hoje esse complexo se chama Mercado da Origem, que veio com essa nova pegada de nós fazermos voltado todo para a tradição da nossa região, agricultura familiar e artesanatos, principalmente os indígenas, e quanto mais ocupação ao redor, melhor e mais seguro.”
A arquiteta disse que o complexo tem 5 mil metros quadrados em seu pavimento térreo e uma demanda de 20 a 30 mil metros quadrados nos pavimentos superiores, que devem ser elaborados conforme o interesse de lojistas em se instalarem no local.
(Foto: Paulo Bindá/ A Crítica)
Gouvêa explicou que o mercado ficou abandonado por 15 anos e que, naquele local, ficavam pessoas ligadas ao crime e outras práticas, mas que agora recebe centenas de pessoas para prestigiar o trabalho. Ela disse que pode ser semelhante em outros espaços.
O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Ralph Assayag, também defendeu que algumas mudanças precisam acontecer, desde que não prejudiquem a estrutura principal do comércio.
“Na parte comercial, é bom se nós pudermos fazer pequenas mudanças para que a gente possa evoluir para um melhor resultado, porque o comércio está há mais de 150 anos. Temos que fazer com que evolua, que melhore, mas que não mude de posicionamento, senão o comércio esvazia, e aí piora mais ainda”, explicou.
O presidente da CDL disse que tem diálogos com a prefeitura para que as moradias fiquem mais naquela região, pois isso possibilitaria maior movimentação.
“O outro pedido que nós temos é que a gente consiga voltar com a moradia no Centro. E, para voltar com a moradia no Centro, vamos precisar que diminuam os problemas de assalto, que diminuam os problemas dos moradores de rua, que têm que ser reestruturados e levados para lugares adequados.”
(Foto: Paulo Bindá/ A Crítica)
Além disso, Ralph Assayag disse que está tendo diálogos com a prefeitura para que se incentive a permanência dos bares noturnos no local, com adequação de som e estrutura, mas que outras áreas sejam recuperadas, como a rua Ferreira Pena.
O secretário do Instituto Municipal de Planejamento Urbano de Manaus, Carlos Valente, destacou a criação do Porto Digital, projeto apresentado durante o seminário, como uma forma de unir diagnósticos e trazer de volta a recuperação do Centro.
O modelo de Porto Digital apresentado no seminário é inspirado em Recife, que conseguiu interligar o Centro Histórico aos ambientes de desenvolvimento tecnológico, de negócios, e muito frequentado por estudantes e membros de startups. Em Manaus, o ponto-chave da tecnologia seria o Casarão da Inovação Cassina, localizado na rua Bernardo Ramos, no Paço.
(Foto: Paulo Bindá/ A Crítica)
Valente explicou que a ideia é investir em mais espaços tecnológicos e recuperação interligada.
“Vamos mostrar como é o Porto Digital de Recife, que foi uma ideia também trazida para a Prefeitura de Manaus na gestão anterior, que deu o pontapé inicial. Esse Porto Digital de Recife é uma experiência interessante, porque mostra para a gente o que podemos atingir lá na frente. É importante lembrar que é um processo a longo prazo, e vamos precisar que as próximas gestões deem continuidade.”
Além disso, o secretário disse que as discussões sobre os investimentos e o recebimento de sugestões vão continuar no segundo dia de seminário e pretendem abordar 12 pontos cruciais de melhorias.
O secretário municipal de Finanças, Clécio Freire, também ressaltou a importância do seminário para reunir ideias e elaborar planejamento.
“Nós estamos oportunizando para que a sociedade, através de representantes da organização social civil, dos empresários, da iniciativa pública e da academia, possa efetivamente estar conosco aqui, trocando ideias, contribuindo, debatendo, colaborando para que, depois desse evento, nós possamos consolidar um documento, um plano de intenções voltado para o centro da cidade de Manaus”, disse.
(Foto: Reprodução)
Questionado sobre os investimentos que podem ser feitos, Clécio afirmou que seguirão modelos que já deram certo naquela região.
“A título de exemplo, nós podemos colocar aqui já a consolidação do Mirante Lúcio Almeida. Podemos colocar a construção do Boothline lá, que está em processo de restauração e, nos próximos meses, estará funcionando plenamente, apesar de já virem organizando eventos e tendo agenda lotada. Então, você já tem, por parte da Prefeitura e da iniciativa privada, vários investimentos em curso.”