Saúde

Campanha Janeiro Verde alerta para o câncer de colo uterino no Amazonas

Com altos índices da doença no estado, especialista reforça importância da vacinação contra o HPV e dos exames preventivos

Gabriel Machado
20/01/2025 às 12:20.
Atualizado em 20/01/2025 às 12:20

(Foto: Divulgação)

Neste mês, as atenções da comunidade oncológica se voltam ao Janeiro Verde, campanha que tem como objetivo conscientizar a população sobre o câncer do colo do útero, o terceiro tipo de tumor mais incidente entre as mulheres, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca).

Em 2025, a estimativa do órgão é que mais de 17 mil casos da doença sejam registrados no Brasil. O Amazonas deve ter 610 diagnósticos, somente neste ano, o que faz com que a neoplasia seja a mais prevalente entre todos os tipos de cânceres no estado. Só na capital amazonense, Manaus, é esperado o surgimento de 420 casos do tumor.

Com os preocupantes índices, é essencial o debate acerca do diagnóstico e, principalmente, da prevenção da doença. “Existem exames que são realizados para identificar lesões precursoras de câncer de colo uterino, e, ao identificar e tratar essas lesões, a gente evita que essa mulher desenvolva um câncer”, afirmou o radioterapeuta Alfredo Reichl, da Oncoclínicas Manaus.

De acordo com o especialista, o exame mais comum é o Papanicolau, por meio do qual é possível identificar essas lesões precursoras e tratá-las de forma precoce. “Quando a gente já encontra uma lesão suspeita de ter evoluído para câncer, a gente faz uma colposcopia. É como se fosse um exame preventivo, só que, nele, a gente faz uma biópsia, tira um pedacinho dessa lesão para ter certeza se é câncer ou não”, explicou Alfredo.

Conforme o Ministério da Saúde, o Papanicolau é recomendado a ser realizado após os 25 anos, em mulheres que já tenham iniciado a sua vida sexual. “É recomendado que ele seja realizado uma vez por ano, nos primeiros dois anos. Caso o resultado desses dois exames sejam normais, a mulher pode fazer um exame preventivo ginecológico a cada três anos. Se esses exames continuarem se mantendo normais, a mulher o mantém a cada três anos”, indicou o radioterapeuta.

HPV

Segundo estudos, entre 95% e 99% dos casos de câncer de colo uterino são causados pelo vírus HPV, transmitido por contato sexual. “A vacina, nesse contexto, vai evitar que o homem e a mulher sejam infectados pelo vírus HPV, principalmente, pelos tipos de vírus que são mais associados ao câncer de colo uterino. Existem centenas de tipos de vírus, mas, geralmente, são quatro os que estão mais associados ao câncer de colo uterino”.

O SUS disponibiliza a vacina quadrivalente contra o vírus HPV, oferecida a crianças e adolescentes entre 10 a 14 anos, em dose única. Além dessa faixa etária, outros grupos também são contemplados pelo Sistema Único de Saúde, como é o caso das pessoas de 9 a 45 anos que vivem com HIV e AIDs; pacientes oncológicos e aquelas que possuem algumas doenças respiratórias específicas.

“Pessoas transplantadas e pessoas com idade entre 15 e 45 anos, que tenham sido vítimas de alguma violência sexual, também têm acesso à vacina”, completou.

Sintomas

Alfredo destaca que os sintomas do câncer de colo uterino mais comuns são, geralmente, sangramentos e secreção vaginal. “Mas esses sinais costumam estar presentes em um diagnóstico mais avançado da doença. Então, nos estágios iniciais, principalmente na presença de lesões pré-cancerígenas, a mulher não costuma ter sintomas”, alertou.

“Por isso, é importante os exames ginecológicos de rotina, o preventivo ginecológico. Por mais que a mulher esteja assintomática”, acrescentou.

Dentre os fatores de risco da doença, o principal é a infecção pelo vírus HPV. “Existem outros [fatores de risco] que, associadamente com o vírus, aumentam ainda mais a chance de desenvolver o câncer de colo uterino, como tabagismo e infecção por alguns outros vírus associados, principalmente, com o HIV. Há também uma teoria, mas é muito controversa, com o uso de anticoncepcionais e o aumento do risco de câncer de colo uterino”, pontuou.

Amazonas

O Amazonas é, ainda, um dos poucos estados do Brasil em que o câncer de colo uterino é o mais comum nas mulheres. De acordo com o radioterapeuta, existem vários fatores para isso. “Um deles é, provavelmente, a disseminação da infecção pelo vírus HPV. Muitíssimo provavelmente, também, pela falta da realização dos exames preventivos nas mulheres acima de 25 anos com atividade sexual ativa, o que as predispõe a desenvolver lesões precursoras e ter a doença diagnosticada”.

Ele acredita, ainda, que na maioria das capitais do Brasil e em outros estados as mulheres têm muito mais acesso aos exames preventivos. “Além disso, elas os realizam com frequência, nessas cidades, fazendo com que o diagnóstico e a mortalidade pela doença sejam muito menores”.

Tratamento

O principal tratamento do câncer de colo uterino em estágios iniciais, quando é diagnosticado de forma bem precoce, é a cirurgia. A cirurgia consiste na retirada parcial do colo uterino, em que a mulher consegue, inclusive, preservar a sua capacidade de gestar no futuro. Em pacientes que tiveram o diagnóstico com a doença em estágio mais avançado, as chances de cura são maiores com radioterapia e quimioterapia.

“O tratamento do câncer de colo uterino já avançou muito, principalmente no que diz respeito às técnicas de cirurgia, radioterapia e quimioterapia, que diminuem os efeitos colaterais. Hoje em dia, a gente faz mais cirurgias capazes de preservar a fertilidade da mulher, evitando cirurgias muito grandes e mutiladoras, que tiram útero e ovário. A radioterapia, com novas técnicas, além de aumentar as chances de cura, diminui muito os efeitos colaterais, associada com quimioterapia. Inclusive, em muitos casos, é capaz de preservar os ovários dessa mulher, para ela continuar a produção dos seus hormônios de forma natural”, finalizou Alfredo.

Assuntos
Compartilhar
Sobre o Portal A Crítica
No Portal A Crítica, você encontra as últimas notícias do Amazonas, colunistas exclusivos, esportes, entretenimento, interior, economia, política, cultura e mais.
Portal A Crítica - Empresa de Jornais Calderaro LTDA.© Copyright 2025Todos direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por