Psicóloga fala sobre o impacto do uso excessivo de celulares para a saúde mental
(Foto: Reprodução/FreePik)
Em um mundo cada vez mais conectado, a dependência dos dispositivos móveis se tornou uma realidade para milhões de pessoas. No entanto, o que deveria ser uma ferramenta para facilitar a comunicação e o acesso à informação pode, paradoxalmente, ser uma fonte significativa de estresse e ansiedade.
De acordo com a psicóloga Luciane Melo, da Reflexo Psicoterapia Online (@reflexo.psicoterapia), o uso irregular de celulares e outros dispositivos digitais pode ocasionar prejuízos cognitivos e na linguagem, principalmente em crianças e adolescentes. “Apesar de sentirmos como se nunca tivéssemos vivido sem as telas de celulares, os avanços são rápidos e recentes”, lembrou a profissional ao VIDA & ESTILO.
Já nos adultos, esse exagero pode gerar grande impacto emocional. “Eles podem experimentar sensações neuroquímicas diante do excesso de estímulo. É o caso de alterações de humor, no sono, na própria alimentação, aumento da ansiedade e comportamentos impulsivos e/ou compulsivos”, listou Luciane.
Comparação
Um dos maiores perigos para quem usa excessivamente o celular é a comparação social nas redes sociais, que pode afetar pontos como a autoestima e a saúde emocional. “Assim como na vida real, ao encontrar um colega, e através de uma conversa pouco aprofundada, podemos nos pegar comparando conquistas e realizações. No virtual, isso tem uma lente de aumento graças à rapidez em que um post ou story pode chegar a milhares de visualizações”, pontuou a psicóloga.
“É um terreno fértil para pensamentos distorcidos sobre si próprio, pois, no online, só temos acesso àquilo que o outro me permite ver por alguns segundos. E poucos são os que tentam mostrar suas fraquezas e seus dias difíceis”, completou.
Outros prejuízos ao bem-estar mental dizem respeito, por exemplo, à concentração. De acordo com Luciane, muitos profissionais comparam os efeitos do excesso de tela ao uso de drogas. “Pode parecer exagerado ouvir isso, mas o excesso de estímulo que é apresentado ao indivíduo é uma enxurrada de dopamina para o cérebro, uma sensação semelhante ao uso de drogas. Por isso, é tão viciante ao ponto de passarmos horas scrollando a tela com um algoritmo te sugerindo o que você ‘precisa’”, explicou a psicóloga.
“É nesse momento que o amigo falou algo que você mais tarde não vai lembrar ou que alguém vai perguntar algo que você vai ouvir mas não vai processar e pedirá para repetir a pergunta. Após o uso por consequência, essa ‘abstinência’ pode gerar ainda prejuízo atencional dado à bagunça que fica instaurada ali e derivada de outras sensações que vão ser experienciadas, como o estresse e a alteração de humor”, acrescentou.
Ansiedade e estresse
Conforme Luciane, após a sobrecarga de informações e estímulos digitais, a pessoa pode vir a experienciar fadiga e estresse - a depender da quantidade de tempo utilizando o dispositivo. “É uma disputa muito injusta do real com o virtual, sendo o real tedioso e pouco motivador depois de um estímulo intenso com tantas opções e vídeos curtos. Essa sobrecarga mental reflete no nosso humor e nas nossas relações. O estímulo excessivo das telas ainda pode causar uma privação de sono ou aquele sono agitado e irregular, que também contribui para o aumento do estresse e ansiedade”.
Dicas
Para evitar cair nessa armadilha, a psicóloga dá algumas dicas práticas para reduzir o tempo de tela e promover um uso mais saudável dos dispositivos móveis.
“Monitorar seu tempo de uso é importante para você entender a dimensão do seu problema, delimitar horários também, e esse limite de horário nas configurações são ferramentas obrigatórias nos app de vídeos curtos, mas acho válido para todas as redes. Desative notificações das suas redes sociais, tente se distanciar do seu celular em situações que exijam seu foco, pratique viver mais do momento presente e menos do virtual. E, quando no virtual, procure influenciadores e canais que lhe representem também, que compartilhem contextos parecidos com os seus”, enumerou.