A busca por uma vida saudável, sustentável e consciente coloca proteínas vegetais, alimentos fermentados e ingredientes nativos como novos protagonistas
(Foto: FreePik)
Uma revolução alimentar global redesenha os hábitos, priorizando saúde, sustentabilidade e consciência. Proteínas vegetais, alimentos fermentados e ingredientes nativos, como mandioca e baru, são os protagonistas dessa nova era gastronômica.
A sustentabilidade deixa de ser um conceito abstrato para se tornar uma realidade tangível, influenciando não apenas o que se come, mas também como esses alimentos são produzidos e consumidos.
O nutricionista clínico-esportivo Carlos Barroso dos Santos destaca que essas tendências levam em conta a crescente preocupação das pessoas com a saúde, a qualidade de vida, a longevidade e a sustentabilidade. “Daí um aumento na ingestão de fibras, alimentos que promovam o bem-estar mental, a experiência de explorar novos sabores e texturas, além de uma redução no consumo de alimentos ultraprocessados, açúcares e adoçantes artificiais”.
Confira a entrevista com o nutricionista Carlos dos Santos na íntegra:
Como as proteínas vegetais influenciarão a dieta contemporânea?
Resposta: Já influenciam. São uma alternativa ao consumo de proteína animal, diminuem os impactos ambientais causados pela pecuária, valorizam a agricultura sustentável e já estão trazendo inovações nos alimentos, como os hambúrgueres de ervilha, os Nuggets de soja e os queijos de castanha, dentre outros.
Qual é o potencial dos alimentos fermentados na promoção da saúde?
Resposta: Os alimentos fermentados são altamente nutritivos e de digestão descomplicada. A fermentação pré-dige os alimentos, tornando os nutrientes mais proveitosos e, em muitos casos, também produz nutrientes adicionais ou elimina antinutrientes e toxinas. As bactérias são fundamentais em muitos aspectos do nosso funcionamento fisiológico e os fermentados têm o poder de sustentar, repor e diversificar a nossa microbiota intestinal, que também pode ser a chave para nos adaptarmos a novas condições.
Como a sustentabilidade influenciará a produção e o consumo de alimentos em 2025?
Resposta: Com as incertezas sociais, econômicas, ambientais e geopolíticas que vivemos atualmente, o cenário da sustentabilidade tende a ficar mais forte. No que diz respeito à produção de alimentos, vejo um aumento na agricultura regenerativa, com técnicas que restaurem a saúde do solo, o uso de fertilizantes mais eficientes e menos poluentes e um aumento nas reduções de emissões com mais políticas e tecnologias para reduzir emissões de gases de efeito estufa na agricultura.
No consumo de alimentos, a virada mais importante será na mudança nos hábitos alimentares; os consumidores estarão mais inclinados a opções com menor impacto ambiental, redução do desperdício com soluções para reaproveitar alimentos e reduzir perdas, como, por exemplo, práticas que reaproveitam resíduos alimentares, como a transformação de restos domésticos e comerciais em fertilizantes ou biomassa.
Qual é o papel da mandioca e do baru na culinária futura?
Resposta: Ambos têm um papel fundamental, quando se pensa em sustentabilidade e importância socioeconômica. A mandioca é versátil, resistente a climas adversos, tem um baixo impacto ambiental, pois necessita de menos insumos químicos e água em comparação com outras culturas e o seu aproveitamento é integral. As folhas são ricas em vitaminas e proteínas e as cascas servem para alimentação animal e compostagem.
O baru é uma castanha fonte de proteínas de alta qualidade, gorduras saudáveis, fibras, vitaminas e minerais. É um alimento funcional, possuindo compostos antioxidantes que ajudam a combater os radicais livres e contribuem para a saúde cardiovascular e a redução de inflamações. Por ser rico em proteínas, pode ser uma alternativa à carne e outras fontes de proteínas com maior impacto ambiental.
Outros alimentos nativos brasileiros com potencial para 2025?
Resposta: Açaí, camu-camu, buriti, tucumã, cupuaçu, castanha do Brasil, as PANCs (plantas alimentícias não convencionais), como ora-pro-nóbis, jambu, taioba são uma boa aposta, pois a valorização desses alimentos nativos reflete uma tendência global de busca por ingredientes autênticos, sustentáveis, nutritivos e funcionais, que contribuem para a preservação da biodiversidade e o fortalecimento das comunidades locais.
Como incorporar esses alimentos na dieta diária?
Resposta: Todos esses alimentos, em princípio, são benéficos à saúde, mas o seu consumo deve ser sempre acompanhado e prescrito por um profissional, após uma anamnese onde é avaliado o estado nutricional da pessoa para se saber quais alimentos, as quantidades e os melhores horários de ingestão.